A polêmica envolvendo o padre Fábio de Melo e um ex-gerente de cafeteria da rede Havanna, em Joinville (SC), alcançou instâncias superiores da Igreja Católica. O caso, que teve grande repercussão nas redes sociais, resultou em uma denúncia formal ao Vaticano, registrada por um bispo de Santa Catarina na Congregação para a Doutrina da Fé — instância responsável por apurar desvios de conduta de membros do clero.
De acordo com o jornalista Ricardo Feltrin, a queixa afirma que o padre não agiu com uma postura cristã durante o episódio com Jair José Aguiar da Rosa, que acabou demitido após ter sua imagem exposta publicamente. A denúncia, apesar de não acarretar punições graves, marca o histórico disciplinar do padre dentro da Igreja.
Tribunal da fé
A Congregação para a Doutrina da Fé é uma das instituições mais antigas e poderosas do Vaticano. Fundada em 1542, durante a Inquisição, atua hoje como tribunal eclesiástico que analisa denúncias envolvendo comportamentos indevidos de religiosos, incluindo crimes graves como pedofilia, desvio de recursos e casamentos não autorizados. O papa emérito Bento XVI, antes de assumir o pontificado, foi o responsável por chefiar esse órgão.
Ação na Justiça e consequências
A situação, no entanto, não parou na esfera religiosa. O ex-gerente Jair Aguiar da Rosa entrou com uma ação cível contra o padre e contra a empresa Havanna, alegando que sua demissão foi consequência da exposição pública gerada após o caso. A informação foi confirmada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Turismo, Hospitalidade e de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sitratuh), que também informou que uma ação trabalhista contra a empresa está em andamento.
“A empresa, na tentativa de se blindar da repercussão do vídeo, acabou jogando toda a culpabilidade para cima do empregado”, disse o advogado Eduardo Desabafo, representante do trabalhador.
Depressão e medo
Durante entrevista ao programa Tá na Hora, do SBT, no dia 29 de maio, Jair contou que a repercussão teve impacto direto em sua saúde mental. “Fui diagnosticado com três síndromes diferentes, tive que trancar a faculdade faltando apenas três meses para me formar”, revelou. O ex-gerente afirmou ainda estar em estado de depressão e com medo de sair na rua devido ao julgamento público.
Segundo ele, o episódio na cafeteria teria sido mal interpretado:
“Eu queria que o padre explicasse por que fez isso comigo. Como mostram as câmeras, eu não falei com ele, nem ele comigo. Quem fez a reclamação foi outro cliente.”
O que diz o padre?
Em nota oficial enviada ao programa do SBT, padre Fábio de Melo disse manter a consciência tranquila e afirmou que nunca teve a intenção de prejudicar ninguém.
“Nunca, em tempo algum, levantei minha voz ou minha ação com intuito de ferir ou prejudicar quem quer que fosse. Não carrego em mim a intenção da maldade, tampouco alimento o desejo de vingança ou revide.”
Sobre a repercussão na internet, o padre criticou os julgamentos precipitados:
“Vivemos tempos difíceis, em que a verdade muitas vezes é soterrada pelo barulho dos julgamentos precipitados, pela crueldade das redes sociais, pelos tribunais da internet.”
Por fim, ele concluiu:
“Se, em algum momento, minha postura, minha fala ou minha presença causaram dor a alguém, quero reafirmar, com humildade: estendo a mão não para julgar, mas para acolher. Sigo comprometido com minha missão e em paz com minha consciência.”
Repercussão
O caso reacende o debate sobre exposição pública, responsabilidade nas redes sociais e os limites da atuação de figuras públicas religiosas em conflitos cotidianos. Apesar da denúncia no Vaticano não representar, até o momento, consequências diretas ao padre Fábio de Melo, o episódio já impactou a vida pessoal e profissional do ex-gerente, que busca agora reparação judicial.