A Polícia Federal (PF) cumpriu, na manhã desta sexta-feira (18), mandados de busca e apreensão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como parte de uma nova fase da investigação que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A operação foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e também incluiu diligências em endereços ligados ao Partido Liberal (PL), legenda de Bolsonaro.
Segundo informações apuradas com aliados próximos, Bolsonaro estava em sua residência, no bairro Jardim Botânico, em Brasília, no momento da chegada dos agentes. O ex-presidente foi conduzido à sede da PF, onde foi submetido à instalação de uma tornozeleira eletrônica, uma das medidas restritivas impostas pelo STF.
Além do monitoramento eletrônico, Bolsonaro está proibido de sair de casa no período entre 19h e 7h, utilizar redes sociais, manter contato com outros investigados ou réus no processo, e de se comunicar com diplomatas ou se aproximar de embaixadas estrangeiras. A Corte considerou haver risco concreto de fuga do país, sobretudo após movimentações recentes envolvendo os Estados Unidos.
STF vê risco de pedido de asilo a Trump
Ministros do STF avaliaram que Bolsonaro poderia estar preparando uma tentativa de obter asilo político junto ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump. A suspeita cresceu após seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), viajar aos Estados Unidos para buscar apoio internacional ao pai.
A ofensiva judicial se dá no momento em que o processo que apura a tentativa de golpe entra em fase final no Supremo. A Procuradoria-Geral da República (PGR) entregou na segunda-feira (14) suas alegações finais, pedindo a condenação de Bolsonaro por cinco crimes: tentativa de golpe de Estado, formação de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, incitação ao crime e dano ao patrimônio público. Somadas, as penas podem ultrapassar 40 anos de prisão.
De acordo com o procurador-geral Paulo Gonet, Bolsonaro foi o “principal articulador e maior beneficiário” da tentativa de subverter a ordem democrática e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Pressão por anistia e embate com os EUA
Nos bastidores, Bolsonaro e seus aliados intensificaram nas últimas semanas uma campanha por anistia. O movimento ganhou fôlego após o ex-presidente Donald Trump anunciar, em 9 de julho, uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras — medida que, segundo Trump, seria uma reação ao que ele classificou como censura do STF a plataformas digitais dos Estados Unidos.
Aliados de Bolsonaro passaram a afirmar que uma anistia ajudaria a reverter a decisão de Trump, buscando respaldo político e econômico internacional para o ex-presidente.
No entanto, o governo brasileiro e o Supremo reagiram com firmeza. Em pronunciamento feito na noite desta quinta-feira (17), o presidente Lula classificou as tentativas de interferência estrangeira como “chantagens inaceitáveis” e acusou aliados de Bolsonaro de agirem como “traidores da pátria”.
— O Brasil não se curva a ameaças externas nem a aventuras autoritárias. Contamos com um Judiciário livre, autônomo e fiel à Constituição — declarou Lula.
O julgamento de Jair Bolsonaro no STF é esperado para o fim de agosto ou início de setembro e pode consolidar um dos capítulos mais decisivos da história democrática do país.
Ver essa foto no Instagram