Criado em 1º de setembro de 2021 pela gestão do ex-prefeito Vitor Valim, o programa “Bora de Graça” transformou Caucaia (CE) no maior município do Brasil a oferecer transporte público 100% gratuito para sua população. A iniciativa representou um marco inédito na mobilidade urbana do país, com impacto direto na economia local, geração de empregos e valorização do comércio caucaiense.
O “Bora de Graça” não foi apenas um avanço no direito de ir e vir – garantido pela Constituição –, mas também uma medida estratégica para fomentar o consumo dentro do próprio município. A gratuidade dos ônibus permitiu que moradores, antes habituados a se deslocar até Fortaleza para compras e serviços, permanecessem em Caucaia, fortalecendo o comércio local, especialmente os pequenos empreendedores e o setor informal.
O programa também reduziu custos para o Microempreendedor Individual (MEI), facilitando a contratação de funcionários e melhorando a dinâmica urbana. Com acesso livre ao transporte, moradores passaram a circular mais livremente, impulsionando negócios nos bairros e feiras populares. O ‘Bora de Graça’ não foi feito para beneficiar grupos específicos. Foi uma política pública para todos — ricos ou pobres, jovens ou idosos.
Durante a campanha eleitoral de 2023, o atual prefeito, Naumi Amorim, reconheceu a importância do programa e chegou a prometer sua ampliação para o transporte alternativo. No entanto, desde que assumiu a gestão em janeiro de 2024, o programa tem enfrentado sérias dificuldades.
Corte de verba e retorno das catracas geram crise no transporte gratuito
Logo no primeiro mês da nova gestão, um decreto de contingenciamento reduziu em R$ 1 milhão o orçamento mensal do programa. A medida impactou diretamente o funcionamento do sistema, forçando a empresa operadora a diminuir a frota de veículos em circulação. Como consequência, superlotação, atrasos e queda na qualidade do serviço se tornaram frequentes.
Além disso, a decisão da nova gestão de reinstalar catracas nos veículos representa um dos maiores retrocessos desde a criação do “Bora de Graça”. As catracas haviam sido abolidas em setembro de 2024, como símbolo dos três anos do programa. Com o retorno do equipamento, as viagens tendem a ser mais lentas, uma vez que apenas uma porta será usada para embarque, enquanto outra ficará destinada ao desembarque — em veículos já sobrecarregados.
Usuários alertam para o impacto negativo dessas decisões. “Falta experiência da nova gestão para manter um programa com a dimensão do ‘Bora de Graça’. O que era motivo de orgulho para Caucaia está sendo desmontado aos poucos”, critica um usiário do programa
A política pública em risco
O “Bora de Graça” foi, e ainda é, um modelo de política pública voltada à inclusão social e mobilidade. Sua eventual deterioração representa não apenas uma perda para os moradores, mas um sinal de alerta para a condução administrativa do município.
A população, que antes aplaudia o programa por sua eficiência e impacto, agora vive a incerteza de até quando poderá contar com o transporte gratuito. A depender dos rumos da atual gestão, o que era referência nacional pode virar apenas uma lembrança.
