A função primordial de um vereador, prevista pela Constituição e pelas leis orgânicas municipais, vai muito além da presença em eventos ou da autopromoção nas redes sociais. Fiscalizar o Poder Executivo, criar leis que atendam às demandas da população e apresentar requerimentos que solucionem problemas comunitários são pilares que sustentam a atividade legislativa.
No entanto, em Caucaia, observa-se um fenômeno preocupante: parlamentares que, por alinhamento político ou estratégia pessoal, priorizam ações de visibilidade imediata em detrimento do acompanhamento rigoroso da gestão pública. O caso do vereador bolsonarista Tancredo Santos (PL) é emblemático. Embora tenha ganhado notoriedade e seguidores ao “realizar obras” ou participar de iniciativas em campo, há questionamentos legítimos sobre sua atuação fiscalizadora.
Onde está a cobrança firme quando as unidades de saúde enfrentam superlotação e falta de medicamentos? Onde está a vigilância sobre contratos municipais e licitações? Onde está a fiscalização sobre a redução da frota do programa “Bora de Graça”, que provoca longas esperas e ônibus lotados?
O próprio parlamentar afirmou que “os petistas podem chorar porque vai ser assim durante os quatro anos de mandato”. A ironia é que sua base política está hoje alinhada ao prefeito Naumi Amorim (PSD) e, consequentemente, ao governador Elmano de Freitas (PT) — justamente o partido que ele costuma criticar.
Entre discurso e prática, Tancredo colhe engajamento digital, mas a essência do mandato legislativo — fiscalizar, cobrar e garantir que o dinheiro público seja bem aplicado — ainda aguarda protagonismo. Para a população, não basta a presença em vídeos e inaugurações; é preciso um legislativo atuante, vigilante e independente.
Caucaia não pode se dar ao luxo de ter vereadores que, por conveniência política, deixam de cumprir a função que mais justifica sua presença na Câmara: defender o interesse público.
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